Primavera Sound Porto.

"Como é que se pode falhar um festival que recebe concertos dos Yo La Tengo, Black Lips e Thee Oh Sees separados por apenas algumas horas?"

A dada altura, num (assombroso) artigo da Vice, Miguel Arsénio coloca esta questão. É realmente uma questão do caraças. Como é que se pode falhar um festival que recebe concertos dos Yo La Tengo, Black Lips e Thee Oh Sees separados por apenas algumas horas? Por muito que pense não consigo chegar lá. Mas eu também não sou muito inteligente, nem perdi muito tempo com isso. Perdi foi anos de vida esta noite só de pensar que hoje de manhã a dura realidade estava de volta e já não havia Primavera para ninguém. Isso e o facto de ter de me levantar às 7h.

A organização não podia escolher cidade melhor para, pela primeira vez, acolher o Primavera fora de Barcelona. Nem podia escolher, no Porto, um local mais apropriado. Isto são factos. Nunca vi nada assim. Estar a apanhar sol naquela relva a ouvir Bigott, que não conhecia, com o mar ali ao lado não é para qualquer um. Estar a apanhar sol na relva a ouvir Bigott, inglês, alemão, francês, búlgaro (tenho quase a certeza que aquilo era mesmo búlgaro, embora não o possa jurar) e mais alguma coisa com o mar ali ao lado não é para qualquer um, nem é mau de todo. Também não é muito mau ver um concerto na boa (ou num estado mais frenético e registo mais físico) ao lado de miúdas giras e com estilo. Há quem prefira gajos suados, sujos, com aspecto asqueroso e dentes por lavar, mas eu não. Ando nestas andanças de festivais desde 2004 e nunca vi um ambiente tão bom - não falo do cartaz porque seria realmente absurdo frisar a qualidade da coisa. WC's? De topo. Posso garantir que não sujei as sapatilhas no WC nem me deu vontade de vomitar de cada vez que lá entrava. (Não sou um vidrinho de cheiro mas dispenso sem grandes problemas calcar excremento ou vomitado). Barraca da Antena3 e outras que tais com palhaçadas que têm como único objectivo levar um gajo a querer bater em alguém? Nada. OK, as meninas da Santa Casa queriam vender rifas e o JN tinha lá uma jeringonça um bocado esquisita, mas passavam bem ao lado e só tínhamos de apanhar com isso na zona da entrada e se tivéssemos mesmo muito azar. Por outro lado não se compreende a inundação no palco 4, a falta de café - o da senhora das farturas não valia um chavo e o preço era absurdo - e o cancelamento dos Death Cab e do Ferraro são de lamentar - pessoalmente até nem me fez diferença mas deve ter havido choro. Já me estou a alongar um bocado por isso vou encurtar a coisa.

Havia muita oferta e muitas escolhas para fazer; não me arrependo de nenhuma e só tenho pena de não ter visto The Dirty Three e War On Drugs; sem surpresas, os Black Lips partiram tudo; também sem qualquer tipo de surpresa, até porque já os tinha visto, os Yo La Tengo foram perfeitos - ainda por cima atuaram de dia, com aquele sol - e só foi pena terem estado apenas 5 minutos em palco; sem grande surpresa mas grande satisfação pessoal, os Thee Oh Sees varreram tudo com uma atuação potentíssima!; com alguma surpresa, não muita, Wavves levaram o povo à loucura e fizeram com que eu perdesse uma grande percentagem de líquidos do meu corpo (tal como os Black Lips no dia anterior). Pá, depois disso gostei muito de Mujeres, Rapture, Atlas Sound, Bigott e de mais uma carrada de cenas mas já chega porque amanhã tenho exame oral e tenho de falar de um livro que ainda não comecei a ler.

Bem, já só devem faltar trezentos e sessenta e tal dias para o próximo Primavera. Vamos indo, já faltou mais.

P.S. - a Optimus é uma vergonha; o "passatempo" dos Black Lips foi uma palhaçada enorme e era perfeitamente escusado andarem a gozar com o povo.

foto retirada do facebook do canal180.